2016-12-25

Feliz Natal e um Ano Novo pleno de Ação de Graças!

Sagrado Coração de Jesus e Maria
O coração materno do judaísmo e do seu filho, o cristianismo universal.
O Natal simboliza a compreensão de que o coração materno do judaísmo e do seu filho, o cristianismo universal, é um só. Simboliza também a Boa Nova, presente nas diferentes culturas, de que o sagrado está presente em nosso coração, conforme expressa a saudação do Yoga: 
O Sagrado Coração em mim saúda o Sagrado Coração em você: namastê!
O Natal é um convite, sobretudo, à reflexão de que não necessitamos de datas especiais para lembrar de alguém que merece a nossa gratidão, ou carece do nosso auxílio e cuidado. A tradicional troca de presentes que acontece nesta data, entretanto, termina por ofuscar esta verdadeira celebração do sagrado (veja aqui). E é por isso que está se iniciando um movimento para se estabelecer o dia vinte e cinco de todos os meses como uma preparação para a celebração maior de Ação de Graças, representada pelo Natal. Deste modo, mensalmente, agradeceremos por tudo, do fundo do coração, ofertando um poema, uma música, um monólogo, uma oração, ou um solilóquio com o Espírito de Deus em nosso coração (veja aqui).

2016-12-08

A Meditação na Práxis Sintrópica (Haṃsa), ou "Meditação em Movimento"

Haṃsagati, desse modo, nomeia o estado de meditação alcançado quando estamos em movimento, em marcha – “gati”, no sânscrito.
Francisco Barreto, na Fazenda Mãe Natureza e
em uma caminhada na Serra de Itabaiana.
Bhagavad Gītā nos revela que não há uma única situação concreta da vida em que a capacidade de cultivar em si mesmo o estado meditativo não possa ser praticada e desenvolvida. O texto descreve o movimento sintrópico da consciência de Arjuna nos campos objetivo (kuru-kṣetra) e subjetivo (dharma-kṣetra) da vida. No campo objetivo da ação concreta (kuru-kṣetra), Arjuna busca o conselho e a unificação com Krishna, que representa o observador (Dṛg), a testemunha (Sākṣī) do Espírito Supremo (Ātman), que não toma parte nas lutas efêmeras do mundo das aparências (saṃsāra). No campo subjetivo do diálogo da consciência de Arjuna (dharma-kṣetra), ele se torna tanto o observador (Dṛg) de si mesmo observando o mundo, como a própria coisa observada (Dṛśya). E é a isto, de acordo com este entendimento da Bhagavad Gītā, que se denomina como a Meditação na Práxis Sintrópica (Haṃsa), ou "Meditação em Movimento". 

2016-12-01

Coração Tranquilo: ressignificando a Haṃsa Tattoo


Hoje faz seis meses que viajei para São Paulo para realizar a segunda cirurgia do câncer na língua. Saímos cedo e fomos para o apartamento de minha mãe. Almoçamos no restaurante vegano Annaprem e seguimos para o ICESP.  Foi nesta cirurgia que ganhei a minha "Haṃsa Tattoo". O vídeo abaixo ilustra o que ela significa para mim: "Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo", como  diz o mantra do socialista zen Walter Franco.

2016-11-02

Bhāvana Namaḥ: repensando a universidade com o coração

Viemos, Cássia e eu,  testemunhar o VIII Seminário Internacional e IX Assembléia Geral do Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras & Primeiro Encontro de Reitores Brasil–Itália, na Università di Parma – Itália, que aconteceu de 24 a 28 de outubro de 2016. O Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras (GCUB) foi constituído em 27 de novembro de 2008, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Coimbra. É composto por um conjunto de 72 instituições associadas, com 51 Universidades Federais, 15 Universidades Estaduais e 6 Universidades Comunitárias e Confessionais.

Este encontro no país onde foi cunhado o termo "universidade" contou com a  a participação de 54 reitores. No dia 25, o Reitor Loris Borghi (Università di Parma) realizou o discurso de abertura (veja aqui). Entre as autoridades presentes, a Ministra da Educação da Itália, Stefania Giannini, e o Embaixador do Brasil em Roma, Ricardo Neiva Tavares.

2016-10-15

A Meditação segundo a Bhagavad Gītā

Bhagavad1 Gītā2 desenvolve a arte e a ciência da meditação sob a forma de um diálogo que tem como espinha dorsal o conceito de śraddhā – o compassivo sentimento sintrópico, que define a Cultura Sintrópica e a sua práxis e se traduz como o princípio da confiança e da prudência, a bússola interior e a amorosa energia que ilumina a razão em seu processo de convergência para a Verdade e o Absoluto (Brahma-sāmīpya). Śraddhā representa o Princípio da Confiança e da Prudência expresso no cogito cartesiano. Representa a razão esclarecida pelo coração tranquilo e pelo sorriso interior que orientam e aferem a conduta do herói em sua jornada. Denota, portanto, o processo racional e dialético para se alcançar o "estado de testemunha", este entendido como o resultado do encontro com as verdades últimas e o sagrado revelado nas Escrituras, fruto da superação da vontade e da fé exterior.

2016-10-13

O que é a Ação (Karma) no contexto dos Seis Deveres Diários?

Krishna explica a Arjuna na Bhagavad Gītā como a prática fervorosa do conhecimento adquirido conduz à realização suprema.
Os Seis Componentes da Atividade Diária do
Śuddha Iogue
Krishna explica a Arjuna na Bhagavad Gītā como a prática fervorosa do conhecimento adquirido conduz à realização suprema. Tal disciplina, que pressupõe a renúncia (samnyāsa) ao fruto das ações e  o desligamento de todas as coisas que impedem a consagração de si mesmo à manifestação da Vontade Suprema, está representada no paradigmático verso BhG 18.66, que trata da genuína dedicação e entrega (satya tyāga) de si mesmo e, consequentemente, de todas as ações (karma), ao Supremo. Esta entrega ao Supremo tem sido expressa ao longo dos séculos dos mais variados modos pelas distintas religiões e sistemas de filosofia. Um exemplo clássico do hinduísmo é o que ocorre na passagem X.75 do Mānava Dharma Śāstra,  onde se descreve o Ṣaṭkarman – os seis componentes da atividade diária do discípulo:

अध्यापनमध्ययनं यजनं याजनं तथा।
दानं प्रतिग्रहश्चैव षटूकर्माण्यग्रजन्मनः॥
adhyāpanam/adhyayanaṁ yajanaṁ yājanaṁ tathā.
dānaṁ pratigrahaś/caiva ṣaṭūkarmāṇyagrajanmanaḥ.
(1) Estudo e (2) ensino; (3) realização de sacrifícios e
(4) condução de rituais; e a (5) realização e
(6) aceitação de doações são as seis principais atribuições das pessoas
de nascimento brâhmane.  (Mānava Dharma Śāstra X.75)

Satya Tyāga: a arte de despertar para a consciência sintrópica

Na prática do Bhāvana procura-se externar o sentimento de unidade (Tudo é manifestação de Brahman) que decorre da meditação e se aperfeiçoa com ela.  O Bhāvana representa, portanto, o reconhecimento da presença, em todas as coisas, da Essência do Sagrado.
Esquema da ordenação do pensamento (cintā)
Satya Tyāga representa, tanto a renúncia (samnyāsa) de todas as coisas que impedem a consagração (tyāga) de si mesmo à Vontade Suprema, como a dedicação plena às verdades (satya) experimentadas nesta relação de aproximação à Consciência Sintrópica Universal, conforme exposto no puro e ancestral yoga de que trata a Bhagavad Gītā1. Devemos nos consagrar (tyāga), de coração, ao exercício de ver em cada minúscula ação uma oportunidade de disciplina interior (tapas), sacrifício (yajña), e doação (dāna) de si mesmo. Este yoga, que quita as três dívidas espirituais (débito com a esfera das deidades das quais herdamos a nossa própria identidade espiritual; débito com os sacerdotes, gurus, sábios e santos que nos deixaram como herança cultural o conhecimento espiritual; e débito com os nossos ancestrais, que possibilitaram o nosso nascimento neste mundo), funda-se em cinco formas de ordenação sintrópica do pensamento (cintā; pronuncia-se “tchintaa”) estabelecidas a partir de śraddhā (a bússola do processo de meditação):
  1. Vibhūti-cintā, ou seja, a ideação e a percepção (cintā) das excelências (vibhūti) divinas que compõem o universo manifestado;
  2. Jñāna-cintā, a reflexão crítica e racional (cintā) sobre todo o conhecimento (jñāna) adquirido e testado na práxis do cotidiano;
  3. Saṃkalpa-cintā, lembrança constante (cintā)  das resoluções (saṃkalpas) tomadas, de uma vez por todas e para sempre  (Ananta he!);
  4. Karma-cintā, a reflexão (cintā) sobre o modo correto de atuar no mundo e o exercício (karma) constante para fazer de toda ação uma meditação na ação; e
  5. Brahma-cintā, o esforço de contemplação da ideação (cintā) da projeção parcial do infinito Brahman durante o processo sintrópico de manifestação do cosmos.

2016-10-08

Prefácio

ŚUDDHA-YOGA DHYĀNA-BINDU ŚRĪMAD BHAGAVAD-GĪTĀ:
O Sublime Canto do Senhor sobre a Filosofia Sintrópica e a Arte e a Ciência da Meditação

Śrī Kṛṣṇa Dvaipāyana Veda Vyāsa, compilador do Mahābhārata.
Natural de uma ilha do rio Yamuna, em Kalpi, é neto do
Rishi Vashistha e filho do asceta Parashara e Satyavati.
***
Dedico este trabalho, com amor e  reverência,
a todos os grandes mestres da humanidade,
em especial, aos Gurudevas
Śrī Kṛṣṇa Dvaipāyana Veda Vyāsa, 
compilador do Mahābhārata, e
Śrī Haṁsa Yogi, o seu mais misterioso
e enigmático comentador.

Mentalizo em meu coração a imagem
de puro resplendor dos pés de lótus dos Mestres
 e me curvo, invocando a sua orientação para cruzar o 
oceano da ilusão e alcançar a intuição da verdade.

***
OM, Saudações aos Grandes Sábios e Santos.
Que haja bem estar em todos os mundos e planos.

औं नमः श्रीपरमर्षिभ्यो योगिभ्यः।
auṁ namaḥ śrī-parama-rṣibhyo yogibhyaḥ.
शुभमस्तु सर्वजगताम्॥
śubhamastu sarva-jagatām.

Saudações aos gurus,
Saudações aos gurus dos gurus,
Saudações a todos os gurus.

अस्मत् गुरुभ्यो नमः।
Asmat gurubhyo namaḥ.
अस्मत् परमगुरुभ्यो नमः।
Asmat parama-gurubhyo namaḥ.
अस्मत् सर्वगुरुभ्यो नमः॥
Asmat sarva-gurubhyo namaḥ.

OM     HRIM     ŚRIM     KLIM     AIM     SAUḤ
(OM ŚRĪ) YOGA DEVYAI NAMAḤ

OM TAT SAT
NAMASTÊ

***

2016-10-03

Ensaio Autobiográfico

Este Diário é a bússola anti-psicanalítica de que me valho para alcançar o porto seguro do Ser.
Ashram Ātma
Até onde consigo me recordar, foi em 1972, após completar quinze anos de idade, que despertei para a espiritualidade pura e os valores do sagrado coração. Nesse ano, se não me falha a memória, assisti Siddhartha e, em seguida, li o livro homônimo de Hermann Hesse, que deu origem ao filme. A partir de Hermann Hesse, descobri Krishnamurti, Vivekananda e vários outros expoentes da Teosofia e do neo-Vedanta então em voga. Foi, contudo, por intermédio do meu falecido tio Sérgio Barretto, que vim a conhecer as práticas de meditação. Costumava passar as férias escolares em Ribeirão Preto e gostava de conversar sobre espiritualidade com ele. Percebendo o meu interesse crescente no assunto, ele logo me indicou o antigo Ashram Sarva Mangalam, dirigido pela Marinês Peçanha de Figueiredo e que funcionava em um casarão, na esquina da rua Aurélia com as ruas Heitor Penteado e Cerro Corá, no bairro da Pompéia, em São Paulo. Ali conheci o saudoso Sri Vajera, que estava de passagem pelo Brasil. Algumas semanas depois, mais precisamente em 25 de agosto de 1974, fui iniciado por ele no Śuddha Rāja Yoga. A partir desta data as práticas de meditação passaram a ocupar um lugar central em minha vida pessoal e acadêmica. É desta simbiose entre a teoria, entendida em seu sentido original, e a experiência pessoal com as práticas de meditação que pretendo tratar, brevemente, nas linhas que se seguem. O entendimento mais superficial e raso e que persiste até hoje, opondo de forma radical a teoria e a práxis, surge apenas com ​a filosofia do hilemorfismo,​ proposta por Aristóteles, segundo a qual todas as coisas ​seriam compostas, exclusivamente, de matéria (hyle) e forma (morphe)​.​ ​Para Aristóteles, a teoria representa a busca de conhecimento por mero prazer e deleite pessoal, enquanto a práxis envolve a aplicação dos conhecimentos teóricos em consonância com uma conduta moral e ética. A teoria estaria restrita ao domínio da forma; e a práxis, ao domínio da vida material. Originalmente, contudo, o termo grego "theoria" já denotava ​a ​contemplação ​amorosa ​e desapaixonada, acessível, unicamente, àqueles capazes de subjugar as suas emoções e desejos, de modo que o intelecto pudesse funcionar, na práxis, sob a luz do Espírito. 

Upasthāna: a via de síntese do puro Yoga

Eu sou a presença da Paz e do Amor em Ação

O poder sintrópico da alma de convergir para a unidade (Brahma-sāmīpya1) relaciona-se com o nosso esforço para renascer a cada novo dia disposto a vivê-lo de forma tão ou mais intensa que o dia anterior. Isto significa que devemos exercitar, constantemente, a renúncia (saṃnyāsa) de tudo que é distinto de nossa natureza essencial e marca-uniforme característica. Devemos renunciar a todo alimento e estímulo, recebido pelos cinco sentidos e pela mente, que se caracterize pela desmedida ou pela violência. Devemos renunciar ao consumo supérfluo de todo e qualquer aparato, tecnológico ou cultural, que esteja gerando impedância, interferência e ruídos em nossas vidas. 

Eu Sou o Fogo Ardente do Coração em Ação

“Haṃsa” simboliza o processo sintrópico de individuação do Ser:  Haṃ-sa,  “Eu sou (‘haṃ)  o Ātman (sa)”, onde  tudo o que fazemos, fazemos de boa vontade, para agradar a Deus e não aos homens. (São Paulo: Colossenses 3:23) Devemos nos consagrar (tyāga), de coração, ao exercício de ver em cada minúscula ação uma oportunidade de disciplina interior (tapas), sacrifício (yajña), e doação (dāna) de si mesmo. A busca da perfeição em cada minúscula ação é a mais elevada forma de escuta e contemplação do sagrado. A escuta e o atendimento aos nossos deveres e dons pessoais nos possibilitam contemplar a verdade de que só há duas classes de objetos sagrados: (1) tudo o que respira e (2) tudo o que não respira. A respiração é o alento sagrado, que anima todas as ações, unificando os seres vivos e os seus processos, por meio do ar, da terra, da água, do sol e da capacidade sintrópica de realizar o círculo virtuoso da fotossíntese. 

2016-10-02

Itihāsa: a mentoria segundo o cânone

A práxis sintrópica da filosofia do coração, revelada  na Bhagavad Gītā1, episódio central do Mahābhārata2, é discutida ao longo deste livro-blog a partir das experiências do autor. A cultura sintrópica não é algo que se transmite de forma passiva. Pelo contrário, é algo que se aprende de forma ativa quando se está disposto a ser o protagonista, na práxis, do seu próprio aprendizado. A maestria é antes uma habilidade prática que um conhecimento teórico. E o caminho para a maestria é feito de pequenos, mas constantes, passos. É deste entendimento que se segue a licença poética para utilizar o termo "Itihāsa" com o sentido de mentoria. "Itihāsa" indica, neste caso, o processo prático que objetiva emancipar o mentorado do seu mentor por meio da cultura sintrópica do Śuddha Yoga, que se funda na arte e na ciência da meditação, expostas por Krishna na Bhagavad Gītā. 

A marca característica fundamental e distintiva dos Itihāsas (iti-ha-āsa: literalmente, "assim, de fato, se deu") é o fato destas narrativas de caráter histórico mitológico representarem relatos testemunhados diretamente pelo autor, presente na trama como personagem. Itihāsa representa um estilo de narrativa em versos, de certa forma, semelhante ao Os Lusíadas, de Camões. Neste grande poema épico (8.816 versos simples) sobre o povo Luso, Camões narra a viagem às Índias, por "mares nunca dantes navegados", dos argonautas portugueses liderados por Vasco da Gama, mesclando elementos de história, religião e mitologia.  Para a Igreja, o poema serve-se da mitologia e do "politeísmo" dos indianos, unicamente, com o intuito de manter as verdades da santa fé. Daí ela entender Os Lusíadas como um instrumento da fé cristã e do seu ideal evangelizador. Contudo, é inegável que a narrativa poética de Camões acrescenta ao espírito católico o sentido histórico mitológico do ecletismo religioso, presente na cultura grega e também nos Itihāsas indianos – compostos, fundamentalmente, pelo Rāmāyaṇa (24.000 versos duplos) e pelo Mahābhārata (100.000 versos duplos).

2016-10-01

O que é Sākṣī?

“Há dois pássaros, dois bons amigos, que habitam a mesma árvore do Ser.
Um se alimenta dos frutos desta árvore; o outro apenas observa em silêncio.”
(Ṛigveda 1.164.20 e Muṇḍaka Upaniṣad 3.3.1)
Sākī (sa, “com”; e aka, “centro da roda, olho”) significa, “observador”, “testemunha”. Quando a roda gira, seu centro (aka) permanece imóvel. O estado de Testemunha, Sākī, expressa a capacidade de observar e sentir, impassivelmente, os eventos que fazem o mundo girar.

2016-09-30

Lidando no Mundo dos Sonhos com a Insondável Angústia

"Unfathomable Sorrow" -- Insondável Angústia: assim denominei esta angustia excruciante que, vez por outra, assume o papel de farol e bússola deste meu processo de individuação (funcionamento ātma-para).
Padre Antonio Vieira dizia que não bastava ver para ver. Era necessário olhar para o que se via. Hoje, dizemos o mesmo de outro modo, pois entendemos que olhar é dirigir a nossa atenção com os olhos, movimentando-os até se formar a imagem do objeto. Se você não olha para o objeto, você não vê a sua imagem. Não é o olhar, e sim o ver, que significa o reconhecimento da imagem pelo sentido da visão. Daí a frase, "O pior cego é aquele que não quer ver". Não faria muito sentido dizer "pior cego é aquele que não quer olhar". Apesar do nosso olhar, é sempre mais fácil não ver do que ter que enxergar o que nos desagrada.

O que é a Prática da Saúde do Śuddha Rāja Yoga?

Quem alcançou a décima e última das lições introdutórias1, estabelecidas no passado pela seção chilena da instituição religiosa denominada ŚUDDHA DHARMA MANDALAM (SDM), sabe que o conteúdo destas lições coincide, praticamente, com aquele do ritual da Prática da Saúde, onde se contemplam os exercícios introdutórios às três formas de meditação que compõem o Yoga de que trata a Bhagavad Gītā: meditação externa (Saguṇa Dhyāna), meditação interna (Nirguṇa Dhyāna) e meditação pura (Śuddha Dhyāna). Organizada por Sri Vajera a partir de algumas passagens do Sanātana Dharma Dīpikā, a Prática da Saúde divulgou e popularizou estas formas de meditação em toda a América Latina.

O que é a Meditação Sintrópica do Śuddha Yoga?

Diário da Consciência de Si
Iogue em Śuddha Yoga
A meditação tem relação com a cultura sintrópica e o processo do autoconhecimento, autocontrole, autonomia e individuação do Ser, que nos permite interagir com a sociedade e com o meio ambiente, segundo as leis universais do amor. O objetivo principal das práticas de meditação é nos nutrir do amoroso sentimento sintrópico (Bhāvana) que nos conduz do saṁsāra ao nirvāṇa, na exata medida em que aprofundamos o nosso entendimento de Ṛta, a lei universal que rege os processos entrópicos da realidade material e inorgânica e os processos sintrópicos da realidade espiritual e orgânica.

Quando nos identificamos com o fogo ardente do coração, a nossa vida toda se torna uma meditação. Este é o sentido do diálogo entre Krishna e Arjuna na Bhagavad Gītā. Meditar, em essência, significa aquietar o pensamento, testemunhar o ritmo da respiração e fazer o coração vibrar (śraddhā) na frequência de amor puro da energia sintrópica de onde surgiu o universo (Brahma-śakti) e que nos unifica à nossa transcendente origem, possibilitando-nos afirmar, com convicção: "Eu sou o fogo ardente do coração em ação; eu sou a presença da paz e do amor em ação". Nesse sentido, não é algo totalmente estranho à cultura ocidental. Pelo contrário, representa o ensinamento simbolizado no primeiro dos Dez Mandamentos da tradição judaico-cristã. Representa o ideal de sintonia com o Sopro Universal, a fonte de onipotente poder de onde procedem todas as formas de Vida, e que levou Jesus a dizer, "eu e o Pai somos Um". 

2016-09-29

Viniyoga: a sintonia integral com a luz natural do coração

Viniyoga1expressa a disciplina do Śuddha Yoga que visa desenvolver métodos específicos e bem ajustados (nyāya) à cada nova situação que a vida nos apresenta. Representa o esforço de conexão com a Consciência Sintrópica, com o consequente  desenvolvimento do poder de agir pelo coração, com motivos puros, mantendo o ego inativo. Este poder, conhecido como naiṣkarmyasiddhi, envolve o compromisso com o propósito (saṃkalpa) definitivo (ananta he!) de praticar a rendição incondicional (namaḥ), em estado de atenção plena, ao aspecto de sagrado (bhāvana), oculto em todas as experiências do mundo.

2016-09-26

Śuddha Dhyāna: os três níveis da Meditação Sintrópica (Prática Coletiva)

A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā
Apresentamos a seguir o roteiro da prática coletiva de Meditação, conhecida como "As Três Dhyānas". Esta prática pode ser adaptada, ou resumida, e incluída em nossa rotina diária. O ideal é que ela seja realizada logo após o asseio matinal, durante o Brahma-Kāla (período de Brahman: entre as 02h00 e as 06h00), período que antecede o nascer do sol, em um local adequado, limpo e especialmente decorado para esta finalidade. Aqueles que quiserem, podem preparar o ambiente fazendo uso de mantras e canções elaboradas, especialmente, para esse fim.

As Três Dhyānas

INÍCIO (Sete toques no gongo. A voz firme, forte, clara, harmoniosa e agradável. Deixar certo intervalo entre cada frase, para que todos tenham tempo de assimilá-las.)

2016-09-16

Coração Tranquilo


Como disse o socialista zen Walter Franco no programa do Jô (1990): "Eu condeno o ódio ideológico" ... "Para que este país volte a ter alegria"..."Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo"...

O Fogo Ardente do Coração

O Fogo Ardente do Coração
O sagrado coração materno do judaísmo e do seu filho,
o cristianismo universal.
O poema animado  "Keepers of the Flame" (Guardiões da Chama), de Paul Reynolds, reproduzido abaixo1, exemplifica que não é necessário pertencer, especificamente, a nenhuma instituição religiosa, para acender e manter acesa a chama interior e o ardor do coração que definem a espiritualidade pura, tanto na Bhagavad Gītā, como na Bíblia. (Lucas 24:32). Segundo o ancestral e puro Yoga revelado por Krishna na Bhagavad Gītā, este ardor surge como expressão do sentimento amoroso e inflamado que brota do coração (śraddhā), quando nos aproximamos racionalmente2 da essência (śuddha) do sagrado (dharma). Esta mesma representação da chama interior e do ardor do coração também está  presente na tradição bíblica judaico-cristã, que enfatiza e unifica, inclusive, os valores judaicos, representados pelo sagrado coração de Maria, e os valores cristãos, representados pelo sagrado coração do seu filho, Jesus. 

2016-09-03

Śuddha Pañjikā: o diário da consciência

Diário do Iogue em Śuddha Yoga
Iogue em Śuddha Dhyāna (Meditação Transcendental)
Śuddha Pañjikā1 indica aquele diário da consciência sintrópica onde os Śuddha Yogis exercitam a sintonia fina com a energia amorosa do coração. Dizia-se na antiguidade védica que a pañjikā representava o registro das ações humanas mantido pelo Senhor da Morte, Yama. Em sua essência (śuddha), a pañjikā representa o registro do esforço de se viver em conformidade com a filosofia da práxis sintrópica do coração. A Śuddha Pañjikā procura expressar o desabrochar gradual de śraddhā e, consequentemente, da visão sintrópica (divyacakṣus), considerando que o coração não tem correntes, porque não sabe viver acorrentado. O coração espiritual busca apenas o seu ritmo sintrópico, procurando se harmonizar, sem perder a cadência e o compasso.